Você está visualizando atualmente Delação de Mônica Moura explica elo de Lula e Maduro

Delação de Mônica Moura explica elo de Lula e Maduro

Delação de Mônica Moura explica elo de Lula e Maduro

Este é um resumão histórico – em parte exibido, com vídeos, no Papo Antagonista de 30 de julho de 2024 – das relações entre o lulismo e a ditadura de Hugo Chávez mantida por Nicolás Maduro na Venezuela, com as participações dos então marqueteiros do PT João Santana e de sua esposa, Mônica Moura, além dos negócios envolvendo as empreiteiras Odebrecht, atualmente Novonor, e Andrade Gutierrez.

A cumplicidade do governo Lula com Maduro mesmo após a fraude eleitoral de 28 de julho, bem como a omissão de emissoras tradicionais de TV e rádio sobre a natureza dessa relação, configura um momento oportuno para lembrar os verdadeiros motivos de tamanho rabo preso.

Como Lula conheceu Chávez?

Em março de 2008, Hugo Chávez contou como conheceu Lula. Ele repudiava na TV, ao vivo da Praça Caracas, o bombardeio colombiano que eliminou Raúl Reyes, número 2 das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em acampamento no nordeste do Equador.

Chávez resmungou contra a imprensa americana e colombiana por chamar Reyes de narcotraficante e, segundo ele, festejar a morte do “revolucionário”. Falou até das presas de Drácula, que são aqueles dentes alongados da frente. Quando foi falar que conheceu Reyes em encontro do Foro de São Paulo, mencionou ter conhecido Lula na mesma ocasião, em 1996, embora ele tenha confundido o ano com 1995. 

“E o que dizer do governo subimperialista da Colômbia? Um verdadeiro sabá [encontro de feiticeiros] se desencadeou, um autêntico aquelarre [reunião de bruxas]. As presas de Drácula banhadas em sangue, celebrando a morte, festejando a nossa morte… Prestamos homenagem a um bom revolucionário que foi Raúl Reyes. Eu o conheci pessoalmente. 

Lembro-me que, quando saí da prisão em 1994 e andava por essas ruas de Caracas, essa Praça Caracas, e esses bairros e aquelas cidades, eu recebi o convite para participar em 1995 [na verdade, 1996] do Foro de São Paulo, que foi realizado naquele ano em San Salvador [capital de El Salvador]. O convite me foi feito por um bom amigo, comandante revolucionário falecido há pouco tempo, Shafik Hándal. E lá fui parar, em San Salvador. E uma das pessoas que conheci foi… naquela ocasião, eu conheci Lula, entre outros.”

Como Lula e Chávez se tornaram íntimos?

Embora Lula e Chávez tivessem se conhecido em 1996, quem disse ter introduzido a intimidade entre os dois foi Emílio Odebrecht.

O empresário fez o relato em sua colaboração premiada na Lava Jato, a força-tarefa que revelou o esquema de suborno na Petrobras, envolvendo a empreiteira de sua família.

A página 62 da transcrição de um depoimento de Emilio mostra o que ele declarou sobre sua própria relação com Chávez, ditador do país onde a Odebrecht tocava diversas obras:

“A relação que eu tinha, não precisava vir via LULA… Quer dizer, eu tinha uma relação com CHÁVEZ… Quem introduziu essa intimidade do LULA com CHÁVEZ fui eu!”

Como surgiu o financiamento do BNDES para o Porto de Mariel?

Logo em seguida, Emílio contou que “CUBA nasceu de um pedido do CHÁVEZ”. O empresário se referia às obras do Porto de Mariel, financiadas pelo BNDES, então presidido pelo militante de esquerda Luciano Coutinho, que havia participado, em 1990, do primeiro Foro de São Paulo, realizado na capital paulista.

“Quer dizer… O trabalho (…) nosso em CUBA foi a partir de um pedido do CHÁVEZ… Do CHÁVEZ… O que foi que eu disse a CHÁVEZ? – ‘Chefe, eu vou buscar lhe atender… Para a gente fazer aquele…’ Foi o porto de MARIEL que ainda tava (…) em cogitação…”

Emílio contou ter dito o seguinte a Chávez:

“O que o senhor pode fazer é me ajudar… E o senhor pedir a LULA, pra dizer da importância disto, porque facilita o programa nosso de andar nas instituições brasileiras… E até certo ponto ele fez… o Chávez ao Lula…”

Chávez pediu a Lula financiamento de obra em Cuba?

Em depoimento gravado em vídeo, Emílio detalhou seu pedido a Chávez para falar com Lula sobre o Porto de Mariel em Cuba e relatou que Lula confirmou ter recebido o pedido.

“Eu disse: ‘Olha, chefe, nós trabalhamos nos Estados Unidos, eu tenho um problema. Um assunto desse de dinheiro, ou tudo isso que está restrito, que está restrito em Cuba, não é fácil viabilizar o esquema financeiro. O senhor, que tem uma boa relação com o presidente Lula, poderia ligar para ele e transmitir isso.’

De fato ele fez. Fui convocado pelo Lula, que disse ter recebido um telefonema do Chávez transmitindo um encontro que tinha tido comigo e que ele estava dentro da linha de apoiar aquele programa lá de Cuba, do Porto Mariel. E foi o que deslanchou.”

Emilio Odebrecht confirmou pressão do governo Lula no BNDES?

Ao ser questionado se houve ingerência política de Lula no BNDES para que o projeto fosse adiante, Emilio ainda respondeu.

“Eu não tenho dúvida nenhuma. Porque eu sou contra todo o processo… eu diria que o BNDES jamais… e nós próprios nem levaríamos um assunto de financiamento ao BNDES para Cuba – não estava dentro do nosso plano – e nem dentro das diretrizes do BNDES…”

Questionado se, numa situação normal, o BNDES aceitaria, Emílio complementou:

“Nem a Odebrecht e nem o BNDES. Numa condição normal, nem a Odebrecht e nem o BNDES. Eu não tenho dúvida quanto a isso.

Então houve logicamente o interesse de governo, político, partindo [do pedido do Chávez], ou não só [desse pedido]… eu não diria… não foi só por causa do pedido do Chávez, aí tinha também a afinidade [de Lula com os regimes de Venezuela e Cuba]…

Pressão… eu acho que teve, ao meu modo de ver, se é legítima ou não, eu não vou entrar nesse mérito, mas eu tenho certeza que houve, porque as prioridades de governo traduziam-se em pressão junto às instituições do próprio governo. O BNDES era uma [dessas instituições].”

Lula pediu a João Santana para fazer campanha de Hugo Chávez?

Já Mônica Moura, esposa de João Santana, contou em colaboração premiada que Lula pediu ao então marqueteiro do PT em 2011 para atender Chávez, que havia solicitado ao próprio Lula essa intermediação para que João fizesse a campanha eleitoral chavista em 2012. 

“Em 2011, um ano antes da campanha de reeleição do presidente Chávez, o presidente Lula manda chamar o João e diz para o João que o presidente Chávez tinha pedido a intermediação para o João fazer a campanha dele de reeleição na Venezuela. Seria em 2012, praticamente na mesma época da campanha de São Paulo, que a gente estaria também na campanha do Haddad neste ano de 2012. Fizemos.

Eles eram muito amigos. Segundo Lula, o Chávez pediu esta intermediação. Aí o João foi sozinho da primeira vez – eu não fui da primeira vez – em uma reunião lá em Caracas, isso ainda em 2011, com o Zé Dirceu, que era a pessoa que fazia o contato com o pessoal da Venezuela.

Nesta época, estava no Brasil também o embaixador Maximilian Arveláez, a gente chamava ele de Max, que era embaixador da Venezuela no Brasil, muito amigo do José Dirceu também, muito próximo – e viajaram a primeira vez João Santana, José Dirceu, o Max, que estava no Brasil, e o Franklin Martins, que também foi convidado para integrar a campanha.”

Quem é Franklin Martins?

Franklin Martins foi ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) de 2007 ao fim de 2010, durante o segundo mandato de Lula. A Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) nasceu em outubro de 2007, abaixo, hierarquicamente, da Secom chefiada por Martins. Ele centralizava a rede oficial de “notícias” (cuja parte televisiva ganhou os apelidos de TV Lula, em razão da programação chapa-branca, e TV Traço, em razão da audiência próxima de zero), a assessoria de imprensa, e a publicidade oficial, inclusive a das estatais.

Foi em sua gestão que ganhou impulso a rede virtual depois batizada pelo tucano José Serra de “blogs sujos”, porque era financiada com dinheiro público para disseminar narrativas petistas e atacar críticos do PT (com nomes, como o meu, elencados até em lista). Martins deixou o cargo, mas a prática continuou durante todos os governos do partido, inclusive o atual.

Quanto Mônica Moura cobrou para João Santana fazer campanha de Chávez?

Mônica Moura detalhou as viagens a Caracas para negociar o acordo, inclusive com o então chanceler Nicolás Maduro, que participou desde a primeira reunião com João Santana. Ela contou ainda que o marido voou várias vezes em jatinho da Andrade Gutierrez, no qual também chegou a ir uma vez. A construtora ainda pagava, segundo ela, a hospedagem no hotel Marriott. Outras vezes ela viajou em avião comercial, recebendo as passagens por intermédio da secretária do petista José Dirceu, condenado no mensalão e no petrolão.

Mônica já tinha consciência da perseguição do regime chavista a opositores e levou em consideração o caos venezuelano ao fazer o orçamento: “Campanha dificílima, porque a situação na Venezuela na época já era caótica, já tinha gente da oposição que eles prendiam a torto e a direito. Eles que eu digo é o governo Hugo Chávez. Já tinha uma situação bem confusa politicamente na Venezuela e todo mundo apostava que Hugo Chávez não conseguia se reeleger. Essa acho que já era a terceira reeleição do Chávez… Foi uma campanha bem cara.”

Depois, Mônica citou o valor fechado com o chavismo.

“Então fechamos o negócio e aí pronto: a partir de agora vamos montar a equipe… [O valor] Cobrado foram 35 milhões de dólares, nunca recebemos tudo, mas foi cobrado 35 milhões de dólares. Nunca tivemos contrato na Venezuela; eu passei os 18 meses que trabalhei lá, indo e vindo, atrás de um contrato, eles escapavam pela tangente e nunca foi feito. Foi tudo pago em caixa 2.”

Lula era a garantia de Mônica Moura para cobrar pagamentos?

A esposa de João Santana contou que sua garantia era Lula e detalhou o quanto foi pago, o quanto não foi.

Eis o diálogo da autoridade policial com ela: 

– Qual foi a moeda de troca para comprovar que eles tinham que pagar, para mostrar que…?

– A minha garantia era Lula, eu confiava muito no Lula, que ele iria resolver, a minha garantia era ele e o nosso próprio trabalho. Nosso trabalho lá foi crescendo de uma maneira que […].

– Tá, mas você chegou a falar para o pessoal da Andrade: ó, se vocês não me pagarem… 

– Cheguei a ameaçar: ‘Gente, se não me pagar, vamos ter que conversar no Brasil.’ Quem me chamou para cá [Venezuela] foi o presidente Lula – que não era presidente na época, mas sempre chamei o Lula assim -; ‘se continuar assim, vou ter que conversar com ele, porque assim não vai dar’, [e eles respondiam:] ‘não, a gente vai resolver, é só uma questão burocrática, a gente tem muita dificuldade de fazer este tipo de transferência, mas vamos fazer um contrato’; aí vinha o negócio do contrato, eu lembro que andei uma três ou quatro vezes para resolver este contrato que nunca saiu, mas eu ameaçava ele e cobrava [a parte que não pagaram].

– E por causa dessa parte, você chegou a acionar o presidente Lula?

– Várias vezes, mas não eu, o João.

– E como foi isso?

– Chegava pra ele e conversava, isso já tinha acabado a campanha, o Chávez foi eleito. Nós estávamos sendo incensados, assim, pela mídia venezuelana como os melhores de ‘não sei o quê’, ‘não sei o quê’, ‘não sei o quê’, e o dinheiro não saía. Não pagava. Não pagava. A Mônica Monteiro e o Franklin Martins também, [os que deveriam pagar] ficaram com uma dívida grande com eles. Então o João, uma vez, conversou com o José Dirceu, mas o Dirceu saía fora, dizendo: ‘Eu não tenho nada a ver com o financiamento, eu só fiz a intermediação.’ João conversava com Lula e Lula dizia: ‘Não, se acalma que vou conversar com o presidente Chávez, isso vai ser resolvido.’ O que aconteceu? No ano seguinte, Chávez morreu, seis meses depois que ele tomou posse. E nós perdemos completamente qualquer chance de cobrar esse dinheiro, de receber este dinheiro, a gente tomou um cano histórico. A gente tomou um cano de mais ou menos 15 milhões de dólares nessa campanha, que nunca foi pago e nunca foi recebido. E do que foi recebido, como eu disse, foi mais ou menos 10 milhões lá, 7 milhões da Odebrecht e 2 milhões da Andrade Gutierrez, dessa forma que relatei.

Delação completa em O Antagonista

Deixe um comentário