Depois do julgamento do pedido de habeas corpus de Lula no STF, se é que se pode chamar de julgamento a farsa encenada no plenário do tribunal, aumentou brutalmente a distância que separa a sociedade brasileira da mais alta instância da Justiça do país.
A distância aumentou porque ficou ainda mais claro — de uma claridade ofuscante — que os embargos auriculares, a promiscuidade com os políticos e a jurisprudência de encomenda estão acima da Constituição na corte que deveria zelar pela sua observância. Ficou ainda mais claro — de uma claridade ofuscante — que, enquanto a nação quer livrar-se DOS corruptos, o STF tenta de todas as formas livrar OS corruptos.
Ao constatar que perderiam na votação do mérito do HC impetrado pela defesa do condenado Lula, os ministros que se dedicam a minar e vilipendiar a Lava Jato — para atender a interesses suprapartidários, não apenas aos do PT — aproveitaram o horário do lanche estranhamente antecipado por Cármen Lúcia (que durou 50 minutos, não os 10 minutos previstos) para montar um palco de quermesse pré-fabricado.
Palco montado, alongaram a sessão com trololó para, enfim, demandarem a interrupção do julgamento, sob o pretexto de que Marco Aurélio Mello perderia o avião (desde quando passeio de ministro é mais urgente do que julgamento de habeas corpus?) e a hora estava avançada (para a happy hour de Dias Toffoli?).
Chamada a subir ao palco, Cármen o fez com visível prazer.
Ato contínuo ao julgamento interrompido por um check-in, o coadjuvante José Roberto Batochio solicitou verbalmente a liminar que proíbe a prisão de Lula — e garante tempo aos asseclas do petista para tentar mudar o voto da claudicante Rosa Weber quanto ao mérito do HC estrambótico.
Tempo generoso, que vai de amanhã até 4 de abril, porque a Páscoa do STF é convenientemente muito espichada. Batochio pediu e levou a liminar-Kinder Ovo, uma novidade espantosa até mesmo para a jurisprudência de encomenda.
Este é o seu STF, brasileiros: uma combinação de alto a baixo para nos manter como um dos países mais corruptos do mundo.