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Javier Milei vence esquerda e é eleito novo presidente da Argentina

Javier Milei vence esquerda e é eleito novo presidente da Argentina

Os argentinos elegeram Javier Milei, fundador do La Libertad Avanza (LLA), como o novo presidente do país, durante segundo turno que aconteceu neste domingo (19). A vitória foi sobre o candidato Sérgio Massa, atual ministro da Economia do país.

Com mais de 90% dos votos válidos apurados, Milei obteve 55,86% contra 44,13% de Sergio Massa.

Massa reconheceu a derrota logo após a divulgação dos primeiros números. “Javier Milei é o presidente eleito pela maioria dos argentinos para os próximos quatro anos. Foi uma campanha muito longa e difícil, com conotações duras e espero que o respeito por quem pensa diferente seja estabelecido na Argentina”, disse em seu discurso.

Trajetória

Autodenominado anarcocapitalista, Javier Gerardo Milei, fundador do La Libertad Avanza (LLA), é um defensor das forças irrestritas dos mercados e do comércio, da primazia da propriedade privada e de um Estado mínimo.

Com uma plataforma polêmica, que prevê a dolarização da economia, o fechamento do Banco Central e o expurgo “da casta política”, Milei busca colocar fim ao peronismo representado pelo ministro da Economia e candidato, Sergio Massa.

Com 53 anos, Milei tem uma trajetória política meteórica. Foi eleito a deputado por Buenos Aires em sua primeira eleição, em 2021. Seu partido, o LLA, tem apenas dois anos de existência.

Ele se tornou um fenômeno político na Argentina quando começou a participar de programas de debate na TV, nos quais as regras éticas do jornalismo costumam ser ignoradas e a incontinência verbal predomina.

“É um formato que fomenta ataques pessoais, impede o debate de ideias e elimina as barreiras da boa educação e o bom gosto, dando lugar à escatologia, ao insulto e à violência verbal”, diz o sociólogo Gabriel Puricelli, vice-presidente do Laboratório de Políticas Públicas e professor da Universidade de Buenos Aires (UBA).

Construiu um personagem combativo, verborrágico, gritão, polêmico, antifeminista e misógino. O mesmo que o catapultou ao cenário eleitoral e captou a atenção dos eleitores descontentes com a corrupção, a inflação, os salários baixos, a falta de perspectivas de melhora pessoal futura, a piora da qualidade de vida, o aumento da desigualdade, a instabilidade econômica.

No país que acalenta o sonho da estabilidade da moeda, sua principal proposta é a dolarização da economia.

Também capitalizou o sentimento dos reacionários, contrários aos avanços dos direitos individuais. É contra o aborto, a educação sexual nas escolas e as políticas de direitos humanos. Porém, surpreende ao afirmar que não tem problema com as relações homossexuais, mas condena o casamento homoafetivo como instituição.

Por outro lado, desqualifica o economista John Maynard Keynes porque “era homossexual e, como tal, vivia separado do mundo das pessoas comuns com o dos agentes da economia real”.

Solteiro empedernido, Milei namora a humorista Fátima Flores, sem aparentes planos de se casar. Vive com quatro cães clonados a partir do DNA de seu cachorro de estimação Conan, um mastim inglês que morreu com 13 anos.

No discurso de vitória nas primárias de agosto, ele agradeceu aos seus “filhos de quatro patas” que levam nomes de economistas conservadores: Milton Friedman, Robert Lucas e Murray Rothbard.

Estudou em instituições privadas, da pré-escola ao ensino superior, e promete acabar com o ensino público — que atende a maioria da população. Se formou na Universidade de Belgrano, fez dois mestrados no Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social (IDES) e na Universidade Torcuato di Tella, uma das mais caras do país.

Segundo a biografia não autorizada, escrita pelo jornalista Juan Luis González, o economista foi criado em um ambiente de violência física e verbal, em Palermo, bairro de classe média alta de Buenos Aires. Tinha apoio somente da avó materna e da irmã mais nova, Karina, que o acompanha sempre.

No colégio particular Cardenal Copello de Villa Devoto, outro bairro de classe média alta, onde cursou o ensino médio, o chamavam de “El loco” (o louco), título do livro de González. O apelido veio dos ataques de ira e linguagem agressiva de Milei.

Um ex-colega de Milei contou ao Valor que durante reunião da companhia onde trabalhavam com bancos para discutir investimentos para um projeto, ele chamou um importante executivo de um banco internacional de “burro”. “Se alguém faz uma pergunta que ele considera pertinente, dedica muito tempo em responder e explicar bem, mas se a pergunta não é inteligente, ele se irrita. Tem rompantes e humor instável.”

Desde 2014, escreveu 10 livros sobre política e economia. O último é “O fim da inflação”, lançado no início deste ano. Milei enfrenta três acusações de plágio de algumas de suas publicações.

Foi professor universitário e trabalhou como economista no banco HSBC e em várias consultorias. O último emprego foi como analista de risco de projetos de investimentos da Corporación América (2010-2021), de um dos empresários mais ricos da Argentina, Eduardo Eurnekian.

O empresário se afastou de Milei por causa dos ataques verbais que ele desferiu contra o papa Francisco, segundo informa fonte próxima de Eurnekian.

O empresário também é contra à proposta de dolarização. Na Corporación América, a fonte relata que Milei se destacava em fazer projeções para os novos negócios. “É muito bom para os números, é muito trabalhador e honesto.”

Sobre o temperamento explosivo, essa fonte afirma que ele “sempre foi um fundamentalista de suas ideias”.

Em uma entrevista ao <strong>Valor</strong> durante a campanha presidencial de 2019, Milei foi educado, tranquilo, inteligente e demonstrou conhecimento sobre a economia mundial e local. Uma imagem completamente distinta da conhecida pela TV e em sua atual campanha.

Durante a campanha, Milei criou várias polêmicas, por exemplo, afirmou diversas vezes que não teria relações com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de o Brasil ser o principal destino das exportações argentinas. E nem com país “socialista, como a China”, o maior credor individual da Argentina. Também prometeu acabar com o Mercosul.

Amigo do deputado Eduardo Bolsonaro, o argentino considera que “Lula vai destruir o país”. Para uma amiga próxima de Milei ouvida pelo Valor, a amizade com Bolsonaro “é assustadora”. Assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro, Milei é a favor da liberação do porte de armas.

O candidato não defende claramente a ditadura militar argentina, bandeira que deixou para a sua vice, Victoria Villarruel. Ambos acusam as organizações de Direitos Humanos de “exagerar” no número de vítimas do terrorismo de Estado.

Embora o discurso de Milei represente a direita mais extrema, tem poucos pontos em comum com programas de outros extremistas de direita, como Donald Trump, Jair Bolsonaro, José Antonio Kast (Chile) e Matteo Salvini (Itália). “É muito mais dogmático, menos oportunista e menos flexível que outros líderes que o veem com simpatia e, à diferença destes, carece a priori de qualquer estrutura organizacional para pôr um governo em pé”, avalia Puricelli.

Fonte: Valor Investe

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